Muito se fala da função social das empresas e suas lideranças, fato que se evidenciou nessa pandemia. Por todo o país, personalidades e organizações mais conectadas aos valores humanos logo entenderam a importância de atuar. Afinal, quanto maiores os lucros ou projeção social, maiores as expectativas de entregas em prol da sociedade. E não tem porque ser diferente. Seria fantástico se esse espírito de cobrar soluções rápidas também ditasse os caminhos da atuação político-governamental.
No auge da crise, vimos vidas, saúde, economia e empregos entrarem em cena como situações antagônicas. Enquanto isso, os brasileiros se deparavam com inimigos reais: o vírus, o medo, a desigualdade social, um sistema de saúde ineficiente. As micro e pequenas empresas, que representam 52% dos empregos com carteira assinada, seguiam lutando para sobreviver num cenário de medo e incertezas.
Sempre acreditei em oportunidades e soluções. Como cidadão, dediquei em acompanhar Caldas Novas-GO, cidade que amo e resido há 33 anos. O que a região das águas quentes e que vive do turismo tem a ensinar? O primeiro aprendizado é que a parceria público-privado deve atuar em prol de um bem maior.
Ainda em março, as autoridades federais já alertavam para as particularidades sociodemográficas de cada região. Como profissional, levei meu conhecimento em Pesquisa & Desenvolvimento a campo. Caldas Novas não dispõe de transporte público, nem gigantes parques agroindustriais. O turista que viria à cidade, seria muito monitorado em trânsito. E isso foi considerado nesse trabalho, que também contou com a doação de 1.500 testes rápidos e o acompanhamento de um comitê formado pelo trade turístico, áreas de saúde, epidemiologia, fiscalização e vigilância, empresários e promotoria pública.
Iniciamos com a testagem de 200 pessoas com síndrome gripal, todos trabalhadores na linha de frente em serviços essenciais. A primeira constatação? O vírus ainda não circulava na cidade. Na fase seguinte, a pesquisa de campo mapeava qualquer síndrome gripal nos postos de saúde. Esse monitoramento seguia se desdobrando em testagem, rastreamento e, em caso positivo, isolamento. O primeiro diagnóstico de Covid ocorreu ao final de abril e, graças ao monitoramento, a descoberta de que se tratava de uma família que recebia um parente vindo da Inglaterra.
Paralelo a uma testagem estratégica, segmentos público-privado investiram em protocolos para a reabertura segura do comércio e turismo, enquanto a retaguarda hospitalar era preparada através de leitos e UTIs. O tempo provou que o caminho foi assertivo. No final de julho, os 180 casos confirmados na cidade contrariavam a projeção matemática de 8 mil turistas infectados.
Hoje, mesmo lamentando a perda de muitas famílias brasileiras, penso nos aprendizados. O medo não deve nos impedir de agir, assim como discussões polarizadas podem tirar o foco do problema. Orientação e protocolos são mais eficientes do que proibição. O que se viu em muitas cidades onde o isolamento se estendeu além do previsto, foram pessoas deixando de respeitar o perigo do vírus. Enquanto não se tem a cura ou vacina, rígidos protocolos, testagem e retaguarda hospitalar são bons caminhos.